sábado, 28 de agosto de 2010

Intimidade.

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Gosto quando a intimidade vem sorrateira, sem pedir licença, quando cai como luvas em minhas mãos ressecadas. O clichê faz sala para as palavras, mas eu pouco me importo se é piegas e tão dito pelas bocas mundo afora. Importa-me mais ser chamado pra deitar no teu peito e querer, querer também as pernas encaixadas e nossos pés com linguagem própria. E a gente se olha com timidez e a intimidade já está lá, sem muito tempo a perder, fazendo tanto por nós. Lava a louça antes que a gente se incomode, prepara sobremesas, o banho, economiza pratos, cerimônias, dizeres... A intimidade ri da dor de estômago imprevisível, do beijo quando descompassado, das gafes que nenhum cinéfilo perdoaria, da música que insiste em martelar na cabeça. Ri dos nossos olhares, das nossas inquietações, dos monstros que somos nós e não somos e não sabemos.

3 comentários:

Tatá R. da S. disse...

Nha, lindo!
Sou sua fã.
=***

J. MD disse...

bacana o texto, will.

Thiago Cavalcante disse...

_nunca antes haviam eles penetrado na intimidade dos
próprios casos, sempre se haviam entendido fora deles
mesmos.

( Lispector, C : _Perto do coração selvagem )