quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Não, você não é doce.

Larga o meu braço. Isso, já.

Abandona as minhas pernas, deixe que dos meus pés seja o que eu quiser.

Estou pedindo para devolver o meu juízo, o meu querer e o meu dever que as horas ainda não disseram que repousariam sob mim.

E não me faz essa cara mendiga, não levanta as sobrancelhas desse jeito nem me lança esses braços elásticos, pois eu disse a todos que iria. E eu preciso ir ver o que há do lado de lá, saber das músicas que eles ouvem, das bobagens que eles contam e das indecências que ruminam. Não que isso mude o lado de cá, mas eu desejo tanto saber.

Quero mudar esta roupa, lavar e largar estes cabelos, guardar meus óculos, esquecer a dor e fazer qualquer um chorar de rir. Fazer o garçom trabalhar até mais tarde, até a comida esfriar enquanto a bebida esquenta e eu conto os meus contos cheios de fantasias de garoto a qualquer pessoa ao lado.

Deixa, só por hoje, que eu beba até esquecer os sentidos e virar uma sinestesia viva. Que suba na mesa e cante Los Hermanos em alto e desafinado som. Amanhã, com ajuda de qualquer sede e qualquer dor de cabeça, você me conta o que houve debaixo daquele teto. E eu juro, juro mesmo, que não me importarei. Quando o azedo assumir todos os gostos, todas as comidas, lembrarei-me da certeza de que não há sabor pior do que o do jejum.

O que não parece justo é entregar as minhas décadas a esse pote de amarguras que é você. Nem é certo deixar os íntimos virarem estranhos e os estranhos mais estranhos ainda, se a gente não nasceu pra ser dueto. Se o nosso par é brega e inútil. Se enquanto você me segura, tão firme e tão convincente, eu só sei esperar o dia em que você vai desistir de mim.

Você não é doce. Não do tipo que pode ser posta distante, para ser sentida apenas na ponta da língua, quando a fome faz salivar. Assim você seria uma delícia. Você é amarga e fica tão próxima à garganta que tão logo faz sufocar e doer.

Então sai depressa daqui, solidão.

13 comentários:

Juliano disse...

Nem é certo deixar os intimos virarem estranhos e os estranhos mais estranhos ainda.

Acho que eu deixei isso acontecer.=/

Abração Will e bom fim de semana

Cristiano Contreiras disse...

Tão viril, tão descritivo é sua linguagem, seus textos são muito bons! assim como o blog. Quero seguir aqui, mas não pode. Espero que apareça sempre no Apimentário!

fica bem, abraço

Maria Midlej disse...

O começo me lembrou a minha mãe. Sério. Ela com essa mania de controlar e medo de me deixar ir..

O meio me fez pensar em um relacionamento acabando, sei lá, essas coisas que nos prendem e nos modificam, nos fazendo cansar.

Mas o final.. ah, o final! Surpreendeu-me e ainda assim me vi nele, com essa solidão que sufoca, controla e nos faz cansar, também.

Amei =D

Tatá R. da S. disse...

Bah, nem sei o que dizer. ._.'
Foda, Willzinho, foda.
A solidão é amarga feito maracujá estragado. E eu to numa abstinência alcoólica que ler isso me deu mais saudade ainda destas sensações, por piores que sejam em alguns momentos. As vezes elas simplismente se tornam necessárias, FATO.
Sou sua fã.
=* <3

Unknown disse...

Quando isso acontece as coisas mudam..e as vezes para voltar a ser intimo demora...pq a confiança perde...

abraçao

Cristiano Contreiras disse...

Will, gosto muito daqui também! seu blog é muito original, até pelo conteudo. Olhe, me acha no orkut, acho que é valido este contato, né? tem o link através do meu Apimentário, ve la! ate

John Rômulo disse...

Só o que está morto não muda!Já bem disse Lispector!
Ver o que existe alem do nosso mundinho é muito bom!Faz bem a mente e alimenta a alma!
Alem de tudo faz a gente ficar assim mais tolerente,com menos preconceitos!

parabéns pelo texto!

ótimo blog!Meu rapaz!

Katrina disse...

Me senti amarga agora, mas pouco

Daniel Cabral disse...

Oi Willan. Muito legal seu blog! O Texto é bem forte. A mágoa é um coisa muito pesada.

Ariana Luz disse...

'Deixa, só por hoje, que eu beba até esquecer os sentidos e virar uma sinestesia viva. Que suba na mesa e cante Los Hermanos em alto e desafinado som. Amanhã, com ajuda de qualquer sede e qualquer dor de cabeça, você me conta o que houve debaixo daquele teto'

gostei de tudo e mais um pouco.


Flores.

Bê Matos disse...

MEU DEUS DO CÉU, MENINO! QUE COISA LINDA É ESSA? SÉRIO, EU QUASE CHOREI AQUI. ): e não consigo parar de usar o Caps de tanta emoção. haha


Suas palavras, silenciam qualquer um, William. :)
Beijos. :*

H L disse...

já tentei espantá-la de todas as formas, elas por vezes se afasta..mas de vez em quando ainda me atormenta!

...


^^

Anônimo disse...

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