Fases

Um dia eu me dei conta que o que eu amava era breve. Tinha data marcada. Tinha horas e minutos contados. E passei a viver meus dias mais levemente, desprendido de chateações que poderiam abreviar ainda mais o que eu queria viver. Postergava o dia do fim, o dia da despedida. Acho mesmo é que tentava postergar o sofrimento, a dor da perda. Estava ocupado demais sendo feliz. Porque quem morre de véspera é peru de ceia de Natal. Detalhes bons foram tendo outra
dimensão em meus critérios. E os ruins, passavam longe de minha barreira de bom humor. Era algo muito claro em minha cabeça. Definido.

No entanto, nada impediu que o sentimento de desordem se instalasse em meu peito quando finalmente veio o começo do fim. Gosto de viver tudo de forma plena, completa. Vou a fundo com meus gozos e também com minhas dores. Sendo assim, curti também essa fase de "perdição" até a última gota.

Estou ciente, agora, de minhas válvulas de escape. Minha personalidade vai muito além do meu distúrbio. Dependo de altos e baixos para sobreviver com a sanidade intacta. É o que me parece. Pode estar tudo errado. O engano vem junto com o acaso, de vez em quando. Mas prefiro isso a perder o momento do acerto. Então, começo a tentar entender essa estratégia de minha mente. O corpo reclama, esperneia até. Mas quem manda aqui sou eu.

Bem, o fato é que a primeira fase está controlada. Até porque, é quase certo vir a segunda, num belo dia, numa bela tarde, sem aviso prévio, nem carta de recomendação. Aproveito o momento. E ele que também trate de me aproveitar. Porque... tenho fases como a lua.