quarta-feira, 1 de julho de 2009

Umbigo

Precisamos olhar mais para nossos umbigos. Não de forma egoísta ou
egocêntrica. Mas para ver nossos erros e defeitos, antes de criticarmos
ou tacharmos alguém de qualquer coisa.

Tenho pré-conceitos, como todo mundo. Algum engraçadinho poderia
dizer que os tenho ao avesso. Às vezes sinto que tudo o que é - da
forma mais pejorativa do mundo - normal, limpo e aceito, me desperta
certos pré-conceitos, sim. Talvez seja aquele desejo, nem tão secreto
assim, de subversão. Mas essas coisas dependem da tua formação
como pessoa. Não vou nem dizer que é questão de educação, porque
minha querida mãe tem uma visão bastante diferente de mim em
diversos assuntos. Começa pela questão moral, passa pela bagagem
cultural e termina na personalidade de cada um.

Começo a questionar meus conceitos pré-moldados ou simplesmente
mal ajustados, mal elaborados. Tudo isso por ter como base um
detalhe, um deslize, uma característica que você nem sabe se
predomina naquele ser que você insiste em rotular.

Devo ter sido chamado de muita coisa nessa vida. Poucas delas eu ouvi.
Outras me contaram. A maioria me fez as orelhas vermelhas e quentes,
injustamente, sem direito de resposta. Mas nunca me irritei tanto quanto
no dia que ouvi a palavra arrogante sendo dirigida a mim. Esse tipo de
coisa te dói mais do que qualquer outra referente à beleza, estilo ou à
própria mãe. Feio, brega e filho da puta, a gente pode até admitir que é.
Até porque, imagino que ninguém se veja um arrogante. Há palavras
que queimam no inferno. Arrogância está tal qual inveja, egoísmo. Não é
apenas feio. É também pequeno. Ultrajante.

Sabendo que não sou arrogante, muito menos com quem vociferou tal
coisa, fico pensando no tanto de gente que não é o tanto de coisa que
pensei, que imaginei, que escrevi em minha cabeça seu nome, como
num fichário de pessoas que visitam minha vida. Começo a engolir
certos comentários a outros de forma duvidosa e cabreira: e de mim, o
que diabos ele(a) fala?

Olhemos para o bendito umbigo. Olhemo-nos bem no espelho.
Lembremos dos deslizes, das palavras soltas sem querer, da cara
amarrada naquele dia, nos segundos perdidos que marcaram nossa
imagem congelada na cabeça, no conceito de alguém. Lembremos
também de nossas manias chatas e todos os defeitos que possivelmente
devem irritar alguém e o fazer perguntar o mesmo: o que diabos aquela
pessoa vê nele? Certamente, tudo aquilo que não conseguimos ver.

3 comentários:

um vento... disse...

me lembrei de um mangá - o espinafre de yukito...

Luciana Brito disse...

Pois é, caro Wilson... o que diabos pensam da gente?

De alguma forma, todos nós julgamos e somos julgados injustamente... É um erro, mas também pode servir para alguma coisa, por exemplo, no seu caso rendeu uma boa reflexão e um post bem grandinho que gera outras reflexões...

E realmente deveríamos olhar mais para o nosso umbigo.

Beijo!

Thiago Cavalcante disse...

Bom dia, Will.

As palavras possuem vida e não se prendem às circunstâncias: embora muitas vezes estamos presos, as palavras 'ditas e malditas' possuem liberdade por si só. Esse é o poder da palavra! E por serem livres, devemos manuseá-las com a experiência de um destro escritor / locutor. Há palavras que quando saem não voltam mais, perpetuam-se na alma ocasionando dor ou paz - tudo depende de como as são lançadas.
Eu era um ser muito preconceituoso. Verdade. Se um cara não fosse da mesma 'tribo' que eu, ela já era visto com um diferencial por mim. E só foi quando eu comecei a enxergar a lacuna que há entre 'eu e mim' que pude olhar para o meu umbigo. E dói, rapaz. [Acho que é por isso que preferimos jogar pedra no telhado alheio – vê-se em sua própria realidade não é fácil].

Mas vamos seguindo...

Um grande abraço,

Espero voltar por aqui mais vezes,

Shalom.